O MUNDO CONHECE O CINEMATÓGRAFO

Os Lumière já contavam com uma rede internacional de agentes que vendiam seus produtos fotográficos. Essas pessoas foram então treinadas para vender a novidade: o cinematógrafo. Os seus agentes escolhiam locais adequados para exibições e entravam em contato com empresários. 

Felicien Trewey
Felicien Trewey

Felicien Trewey, o homem escolhido para revelar a novidade e impressionar os ingleses em março de 1896, apresenta as imagens do cinematógrafo atuando como comediante. O espetáculo realizado por ele na capital inglesa foi um sucesso. 

Em maio Charles Moisson foi enviado ao oriente para fazer o que seria o primeiro filme de uma cerimônia real: o coroamento do Czar Nicolau II no Kremlin. O próprio Czar percebeu o potencial do filme para fins históricos e de propaganda e designou dois funcionários para registrar grandes eventos na Rússia Imperial.

Charles Moisson
Imagens da cerimônia de coroamento do Czar Nicolau II 
Charles Moisson no casamento de sua filha

Os irmãos Lumière concordaram que um empresário local poderia obter concessão para produzir os filmes mas se recusaram a vender suas máquinas. Teriam que usar os operadores de Lumière. Alexander Promio foi a pessoa indicada para treinar os operadores que seriam enviados ao exterior. Cada posto, além dos operadores, contava com dois cinematógrafos que podiam exibir filmes vindos de Lion ou produzidos no próprio local. 

Alexander Promio
Alexander Promio e sua equipe

Os concessionários locais pagavam as despesas dos operadores franceses além da participação da bilheteria. Os Lumière ficavam com  cincoenta por cento do total além de um por cento para os operadores. O responsável pelos operadores era Promio. Em maio de 1896 a primeira equipe treinada por ele partiu.

Imagens da partida da primeira equipe de Lumière

Naquele mesmo ano os homens de Promio deram a volta ao mundo. 

Filme dos Irmãos Lumière produzido no Egito pela equipe de Alexander Promio em 1896

A maioria dos operadores eram rapazes que trabalhavam na fábrica de Lion. Um deles era Felix Mesguirch. Quando foi contratado em janeiro não sabia nada sobre o novo ofício. Mas em junho estava pronto para partir para Nova York. Mesguirch na verdade fez sua primeira apresentação duas semanas depois de Edson, mas apesar disso o cinematógrafo foi objeto de aclamação da plateia americana.

Filme dos Irmãos Lumière produzido em 1896 por Felix Mesguirch em Nova York

Os filmes de Lumière tinham uma qualidade muito superior. Enquanto isso os homens de Promio estavam filmando em todas as cidades mais importantes da Europa para montar o catálogo da companhia. E onde quer que fossem eram sempre os mesmos motivos que atraiam os operadores.

Imagens  produzidas pelas equipes dos Lumière em sua volta ao mundo, 1896 a 1900. América do Norte – Europa – Ásia – África – Austrália. 

As primeiras críticas sobre o conteúdo dos trabalhos dos Lumière davam conta que determinados cenários eram sempre iguais. Uma estação de trem em qualquer lugar era sempre uma estação de trem. E se você já viu uma então já viu todas. As cenas exóticas mostraram ser as mais vendáveis.

E a câmera de cinema ganhava vida…

Em 1896, quando filmou Veneza, Promio observou que a câmera estática captava imagens em movimento. Então pensou em operar em movimento para registrar objetos estáticos. A câmera ganhava vida.

Filmando na cidade de  Veneza em 1896, Alexander Promio registrou imagens estáticas com a câmera em movimento.

Num período de dezoito meses quase dois mil títulos já estavam no catálogo dos Lumière. Em 1897 concorrentes americanos começaram a utilizar medidas políticas de restrição aos trabalhos dos Lumière. William McKinley disputava a presidência e seu irmão tinha grande participação numa companhia cinematográfica. “A América para os Americanos” era o slogan de McKinley. Os operadores de Lumière logo veriam ameaçado o livre comércio de imagens. Mesguirch ao filmar crianças brincando no Central Park foi abordado pela polícia que lhe disse que precisava de permissão. 

Mesguirch filmou crianças no Central Park

Era a primeira vez que isso acontecia. McKinley ativou a alfândega. Uma irregularidade foi encontra nos documentos de importação dos franceses e as autoridades passaram a confiscar todos os cinematógrafos que encontravam. A maioria dos operadores fugiu para a França. Mesguirch dirigiu-se para a fronteira e filmou do lado canadense as cataratas do Niágara. 

A Magia dos Lumière

Os Lumière então mudaram de estratégia. Agora vendiam as câmeras para os concessionários estrangeiros e os seus operadores foram dispensados. Os irmãos Lumière estavam interessados na ciência e não em fazer dos filmes uma indústria de lazer. Lui, passou a desenvolver um processo de cor chamado auto-cromo, o que demonstra a sua satisfação em aperfeiçoar a realidade das imagens. Em 1900 Lui apresentou uma tela de quinze metros de altura por dezoito de comprimento na qual projetou um filme de setenta milímetros. Em 1901, numa sala construída para este fim, ele apresentou um fotograma em que os projetores cercavam o público com imagens. Quarenta anos depois do cinematógrafo Lui fascinou a academia com uma demonstração de filmes em terceira dimensão assistidos com óculos especiais. Mas nada se comparava aquelas primeiras imagens em movimento no final do século dezenove. A afeição dos Lumière aos detalhes da vida cotidiana nos dá uma impressão daquele período e das pessoas. Os Lumière podem ter sido, e certamente o foram, pioneiros de um meio revolucionário, mas os valores representados em seus filmes são tradicionais: o cotidiano, os amigos, os deveres, a família. Hoje grandes indústrias trabalham para encher nossas vidas com imagens fabricadas. Mas aqueles primeiros filmes feitos por um homem que girava uma simples manivela de um pequeno caixote ainda nos impressionam por sua beleza e nos oferecem um registro vivo de um tempo passado, de uma outra época.

Na magia dos Lumière, o vivo registro de um tempo passado

FONTE: Setor de Cinema do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

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George Méliè e Thomas Edison