Noturno de Porto Alegre

Luiz Coronel

Posto que a um reino estenderás teus vínculos,
assim bem menor há de se tornar tua orfandade.
De minha parte eu me declaro súdito e consagrado
ao claro esplendor de minha cidade.

Mas também à tua noite eu me tenho afeito,
mesmo aquelas em que a mais densa neblina
esparge melancolias sobre os telhados
e o frio deita nas taças o sabor dos vinhos.

Às vezes, altas horas, do topo de teus edifícios,
eu te contemplo, cidade. És uma constelação.
E cada vida é uma estrela que tu mesma acendes.
E por ti arde qual uma galáxia de luminosa paixão.

Ao regressar ao “Porto dos Dornelles” eu estendo
as mais sinceras escusas por involuntária ausência.
Mas, de mim, esta cidade não se faz distante –
de tal forma, sua imagem, em meu coração, se faz presença.

Ó cidade, bem não te conhece quem um dia não tenha
se entregue aos teus braços de rio de margens perfumadas.
Breve, eu sei, tenho certeza, muros e anteparos tombarão
e “Porto dos Casais” e o rio serão uma verdade única e entrelaçada.

Mas quais virtudes, além de tua beleza, te fazem assim
amada e envolvente? Teu pôr-do-sol, quase miragem?
Ó cidade, teu destino é ser berço de solidários sonhos,
a contemplar o tempo com um grave compromisso de coragem.

Bem sei, minha cidade, o quanto a vida é breve.
Mas também aprendi quanto de amor ela nos concede.
À cada dia que compor meu tempo, eu agradeço
a indizível graça de viver sob os céus de Porto Alegre.