Acendedores de Lampião
As lâmpadas a gás passaram a ser utilizadas em larga escala durante o século XIX e início do século XX, quando foram substituídas pelas lâmpadas elétricas. No Brasil, os primórdios da iluminação pública nos remetem ao século XVIII, quando foram instaladas cerca de 100 luminárias a óleo de azeite pelos postes da cidade do Rio de Janeiro, em 1794. Em Porto Alegre, há registro fotográfico dos acendedores de lampiões no início do século XX.
Ainda em Porto Alegre, no ano de 1874, com a inauguração da usina do gasômetro, a Praça da Matriz recebeu postes de iluminação pública a gás no entorno do chafariz central.
Então, em 1887, uma usina elétrica começa a operar em Porto Alegre, dando origem ao primeiro serviço municipal de iluminação elétrica.1
O trabalho dos acendedores de lampião de Porto Alegre, que foi registrado pela lente de Virgilio Calegari, evidencia sua preocupação com a fixação da memória. A imagem mostra os acendedores de lampião aprumados, com os seus apetrechos.
Sinara Sandri2 discorre sobre a percepção que o fotógrafo Virgilio Calegari, deixou para a posteridade:
“o retrato de um grupo de acendedores de lampião perfilados e ostentando seus instrumentos de trabalho poderia ser considerado quase como que a sacralização não só da profissão, mas também da iminência de sua extinção. Com datação não fixada pela instituição de guarda.
“A fotografia tomada por Calegari conforma uma pose típica dos retratos de grupo onde o posicionamento é condicionado pela amplitude de enquadramento obtido pela câmera. Para não deixar de fora nenhum de seus 16 modelos, o fotógrafo optou por uma composição com duas linhas horizontais sucessivas e de altura crescente que não são totalmente simétricas, mas mantém equilíbrio em relação ao elemento central, um homem montado a cavalo que também serve como marca para o terceiro plano da imagem. Estas camadas horizontais servem também para realçar a presença dos instrumentos de trabalho trazidos à cena, já que são pontilhadas pelos altos bastões exibidos. No primeiro plano, na lateral direita, um lampião completa a cena e reforça a identidade forjada pela ocupação profissional de um grupo heterogêneo, tanto em termos de etnia quanto de faixa etária. “
O poeta Jorge de Lima3 fez um apreciável registro da figura do acendedor de lampiões:
O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.
Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.
Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.
Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!
FONTES:
1 Compilação do artigo de LUCIANO HAAS ROSITO, engenheiro eletricista, coordenador do Centro de Excelência em Iluminação Pública da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (CEIP-PUC/RS) e da área de iluminação dos Laboratórios Especializados em Eletroeletrônica, Calibração e Ensaios (Labelo/PUC-RS) Publicado em As origens da iluminação pública no Brasil – O Setor Elétrico/Janeiro de 2009
2 SANDRI, Sinara, jornalista e mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com o trabalho: “Um fotógrafo na mira do tempo – Porto Alegre por Virgilio Calegari”, realizado sob orientação de Sandra Pesavento
3 LIMA, Jorge de, poeta nascido em União dos Palmares – AL (1893 — 1953)