Aquiles Porto Alegre

Aquiles Porto Alegre

As crônicas de Aquiles Porto Alegre, escritas entre 1915 e 1925 […] elaboravam a memória de uma “outra” cidade: a velha Porto Alegre. Nessas crônicas era lembrada a pequena e pacata cidade do século XIX, com aspectos interioranos, que podia ser percorrida a pé, onde os habitantes se conheciam e os nomes das ruas eram dados pelos seus moradores. Entre a história e a literatura, estas crônicas tinham um tom nostálgico e buscavam perpetuar a memória de uma cidade menor, social e culturalmente menos complexa diante de um presente instável e em rápido processo de mudança.

Descreveu tudo: as ruas, os tipos que nela habitaram; seus hábitos e segredos. Também, na sua crônica se sucedem: os chafaries, os sistemas de transportes, a vida nos cafés! Os tipos populares (o MIL ONÇAS que morava nas bandas do RIACHO, um chato de quem todos fugiam); os jogos de outrora, a”sapata”, a “bola”, o “meu boi fugiu”’…, os ternos de reis, as serenatas, as cavalhadas.1

Na história da crônica no Rio Grande do Sul, Aquiles Porto Alegre (1848-1926) aparece como um dos renovadores desse gênero.

Destacou-se como jornalista e escritor cuja produção literária começou na Revista Mensal do Partenon Literário. Aquiles Porto Alegre é considerado um parnasiano pelos críticos literários, embora sua obra não tenha se libertado totalmente das influências do romantismo. As suas crônicas tratam de temas ligados ao dia-a-dia da cidade de Porto Alegre e de seus habitantes, dirigindo-se ao leitor e empregando uma linguagem entre coloquial e literária.

Aquiles transita entre memorialismo e crônica de costumes, registrando informações e lembranças de um passado de onde emergem paisagens, ambientes, costumes e tradições de sua cidade. A sua escrita vale-se de recursos metafóricos e imagéticos, embora, em certos momentos, busque foros de veracidade através da citação de obras de historiadores e de documentos.
Essa ambiguidade entre literatura e história nas suas crônicas apresenta-se tanto na matéria narrada, oscilando entre o relato histórico, a opinião política e o comentário pitoresco, quanto na forma da crítica compreendê-la e enquadrá-la ora no campo da literatura, ora no campo da história […].

Nascido em Rio Grande, em 1848, transferiu-se para Porto Alegre, onde estudou no Colégio Gomes e na Escola Militar. Foi funcionário público, jornalista, poeta e cronista. Fundou com seus irmãos Apolinário e Apeles a Sociedade Partenon Literário, da qual foi eleito presidente em 1879. Fundou e dirigiu o Jornal do Comércio (1884-1888) e A Notícia(1896), que revelou vários jornalistas. Foi membro da Academia Rio-Grandense de Letras, fundada em 1901. E foi, também, em 1920, sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul […].

Aquiles Porto Alegre, como outros intelectuais do período, atuou em várias áreas, tanto no funcionalismo público (capitão reformado, telegrafista, funcionário do Tesouro, inspetor escolar) quanto como professor (Instituto Brasileiro, Escola Normal, Júlio de Castilhos) e jornalista (Jornal do Comércio e A Notícia). Tendo alcançado o reconhecimento pelo seu trabalho intelectual e político – na causa abolicionista e republicana –, ocupou lugar de importância nos dois principais círculos de letrados da capital do Estado: a Academia Rio-Grandense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
Escreveu e publicou poesias, contos, romances, crônicas e, também, livros de história, que foram publicados na maturidade de Aquiles: Homens ilustres do Rio Grande do Sul (1916) e Vultos e fatos do Rio Grande do Sul (1919). Em 1920, publica a obra Através do passado (Crônica e história), que, como o próprio título revela, situava-se entre a crônica e a história. Em 1922, publicou Noutros tempos (Crônicas), que também revela o mesmo caráter entre crônica, memória e história.

Uma seleção de suas crônicas, organizada postumamente por Deusino Varela, sob o título de História Popular  de Porto Alegre, foi publicada em 1940, em edição comemorativa do Bicentenário da Colonização de Porto Alegre2.

FONTE: Histórias e memórias da cidade nas crônicas de Aquiles Porto Alegre (1920-1940), artigo de Charles Monteiro, Professor do curso de História e no Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS. Mestre em História pela PUCRS e doutor em História pela PUCSP

1 Citado em http://www.arl.org.br/patronos/aquiles_poa.htm
2 Franco, Sérgio da Costa, Porto Alegre: Guia Histórico, 4 e.d., Ed UFRGS, 2006, p. 326