O Cemitério da Santa Casa e a Arte Cemiterial

O Cemitério da Santa Casa e a Arte Cemiterial

Alameda Principal

Imagem Calovius – Março de 2016

Introdução

Com o passar dos tempos os diferentes povos encontraram formas de privilegiar a memória dos seus mortos. Vânia Maria Barboza ⁽¹⁾, em seu estudo sobre a história da morte e dos cemitérios na história ocidental, demonstra a importância da Arqueologia da morte para o estudo das sociedades.

“Ao longo do tempo, cada civilização apresentou sua resposta para o problema da morte. Sepulturas, túmulo, pirâmides, catacumbas, cremação, ritos funerários, foram usados pelas sociedades como formas de destinar os restos mortais dos seus membros” (CHIAVENATO, 1998). ⁽²⁾

“Os cemitérios são espaços que “falam”, que contam histórias que oportunizam aos povos representar suas esperanças, medos e angústias, amores e dores. São espaços dos sentimentos materializados através de flores, mensagens, placas, lápides, figuras; são um lugar de memória, uma forma de evocar o passado, perpetuar a recordação e a incluir na própria escrita. Os cemitérios são lugares de memória para um grupo social específico, uma vez que têm, um simbolismo atribuído ao conjunto de lápides e túmulos inseridos em um espaço que guarda a memória (coletiva) que necessita de suporte exterior para sua preservação” (NOGUEIRA, 2012). ⁽³⁾

Na simbologia cemiterial ⁽⁴⁾ , além de monumentos tumulares de grande valor artístico, os cemitérios nos trazem uma complexa e abstrata simbologia através das formas geométricas, símbolos, objetos etc. A combinação destes elementos nas lápides, esculturas e mausoléus, cria mensagens que fazem alusão a conceitos religiosos da época, fornece informações sobre o falecido, sua origem familiar, nível social etc. Portanto, funcionam também como uma rica fonte de pesquisa sociológica e cultural.

De acordo com as palavras de um dos fundadores da Psicologia de Massa, Gustave Le Bon, temos explicação exata do significado das obras de arte nos túmulos:

“Não são os fatos em si que ferem a imaginação coletiva, mas sim o modo pelo qual se lhes apresentam. Os monumentos e as comemorações são, sem dúvida, os meios mais proveitosos, práticos e seguros, para gravar no espírito do povo as proezas de um herói, a grandeza de um nome ou a importância e o significado de um acontecimento”.

A Lomba do Cemitério ⁽⁵⁾

O primeiro cemitério instalado no alto do Morro da Azenha foi o da Santa Casa de Misericórdia.

Até a metade do século 19, os mortos de Porto Alegre eram enterrados próximo à Praça da Matriz, nos fundos da antiga igreja, que tinha ao lado a capela do Divino Espírito Santo (local onde hoje está a Catedral Metropolitana). Terminada a Revolução Farroupilha (1835-1845), o Conde de Caxias (Luís Alves de Lima e Silva, depois elevado a duque), como presidente da Província, horrorizado com as condições insalubres de um campo santo dentro da cidade, decidiu que já havia passado da hora de implantar um cemitério afastado do Centro, conforme projeto da Câmara que, desde 1843, já havia escolhido o novo local. Embora a decisão de Caxias tenha sido em 1846, somente em 1850 começaram os sepultamentos na nova necrópole.

O Atual Cemitério da Santa Casa ⁽⁶⁾

Atualmente o Cemitério Santa Casa, com cerca de 10 hectares  e 40 mil jazigos,  é a expressão evidente das transformações sociais, econômicas, políticas e culturais promovidas ao longo do tempo na história da capital e do estado do Rio Grande do Sul. Em 06 de abril de 2020, o Cemitério completou 170 anos de fundação. Desde 1850, é um espaço que conserva patrimônio funerário e muito das transformações sociais, econômicas, políticas e culturais de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Com cerca de 10 hectares e 40 mil jazigos, é o mais antigo em atividade no sul do país. 

Vídeos sobre a Arte Funerária

A Arte Cemiterial no Cemitério da Santa Casa

Túmulo do cantor Teixeirinha

Túmulo do Capitão Paraquedista Cassemiro Scepaniuk ⁽⁷⁾

FONTES:

⁽¹⁾ BARBOSA, Vânia Maria, Sociedade X Cidades dos Mortos: A VISÃO DA MORTE NA SOCIEDADE ERECHINENSE

⁽²⁾ CHIAVENATO, J. J. A morte: uma abordagem sócio-cultural. São Paulo: Moderna, 1998

⁽³⁾ NOGUEIRA, R. de S. Elos da memória: passado e presente, cemitério e sociedade. Vivência: Revista de Antropologia, n.39, p.83-89, 2012

⁽⁴⁾ http://www.spectrumgothic.com.br/gothic/acervo_cemiterial/simbologia_cemiterial.htm

⁽⁵⁾ Artigo publicado no jornal Zero Hora, de 14 de junho de 2016

⁽⁶⁾ https://www.chcsantacasa.org.br/historia_conteudo/cemiterio-da-santa-casa/

⁽⁷⁾ O Capitão Casemiro Scepaniuk, faleceu em 02 de fevereiro de 2016, aos 94 anos.