O Colégio Militar e a Câmara

Em 1912, a aprovação de um projeto parlamentar poderia suprimir o Colégio Militar de Porto Alegre. O jornal Correio do Povo publicou artigo sobre o assunto em sua edição de 14 de outubro daquele ano. 

A grafia da época foi preservada.

Colégio Militar de Porto Alegre, 1912. Antiga Escola de Guerra

Rio, 8 — Os jornaes da manhã publicam resumos dos longos discursos proferidos, hontem, na Camara, em favor dos collegios militares e combatendo, com vehemencia, o projecto do deputado João Simplicio.

No discurso que proferiu o deputado José Bonifacio impugnou o projecto, considerando-o altamente prejudicial aos interesses do paiz, sob o ponto de vista da sua instrucção militar. Extranhou, que num orçamento de 80 mil contos de reis, o author do projecto propusesse córtes de 1.600 contos, affectando o ensino militar, tão necessario ao paiz. São sempre injustificaveis, disse, as economias com a instrucção.

Defendeu as despesas feitas com os collegios militares, principalmente porque são somente estes os institutos militares de ensino secundario existentes hoje no Brazil, com organização seria, disciplinada e proveitosa. Disse que a necessidade de um bom ensino militar, que seja ministrado em diversos pontos do paiz, não póde ser contestada.

Si queremos promover a grandeza militar do Brazil, o prestigio das suas forças armadas, com uma educação civica e patriotica, que devem ter os que estão servindo a patria com idéias sempre alevantadas e nobres, o collegio militar é um viveiro onde se cultivam as aptidões militares, apurando-se vocações; onde se inicia pelos exercicios pertinentes ao amor ás armas a defesa nacional e a perfeita compreensão dos deveres de classes.

Elogiou o deputado Soares dos Santos, qualificando o de militar distincto e zeloso na defesa dos dinheiros publicos.

Lendo um parecer favoravel á manutenção dos collegios, discorreu longamente, jogando com dados e algarismos, para demonstrar que a suppressão do Collegio Militar de Porto Alegre acarreta despezas. Disse que, si era injustificavel a suppressão do Collegio de Barbacena, mais ainda era a do de Porto Alegre.

O orador terminou fazendo uma evocação a vultos rio-grandenses, dizendo:

“De Manoel de Andrade Neves, o bravo dos bravos; de Osorio, a personificação mais alta das virtudes guerreiras do dever militar; de Gaspar Martins, o extraordinario tribuno, imperterrito, constante defensor de todas as causas rio-grandense e que tão intenso brilho deu a sua gloriosa terra natal nas lides do parlamento e nos conselhos da corôa; de Julio de Castilhos, esse alto e formoso espirito, engastado numa admiravel organisação moral, irreductivel nas suas convicções politicas, vontade de bronze numa probidade granitica, a conquistar o respeito e a veneração dos seus mais intransigentes adversarios — que diriam sua almas de denodados patriotas, si, trazidas das regiões em que habitam, tivessem de resistir ao golpe cruel e impiedoso que se pretende vibrar contra a gloriosa terra gaucha, tirando-se á sua heroica mocidade esse instrumento de progresso, de civilisação e de educação da liberdade? “Diriam, sem duvida, que o attentado não se consumará, porque o Rio Grande do Sul tem, nos seus filhos de hoje esforçados paladinos do seu prestigio, porque a representação rio-grandense, que aqui está e me ouve, tem a inspirar-lhe os passos, os votos das opiniões, uma historia riquíssima em admiraveis lições de civismo, em grandes e verdadeiras canções de patriotismo, rematando com os mais bellos feitos de heroismo, que por todos os cantos do paiz, despertam vibrações sadias e fortes na alma nacional.”

O orador foi muito applaudido e felicitado. 

Consta que a maioria da bancada rio-grandense votará a favor da manutenção do Collegio Militar de Porto Alegre. É provavel que apenas o deputado Domingos Mascarenhas acompanhe o dr. João Simplicio. O resto do grupo adheriu ao deputado Soartes dos Santos, que tem recebido muitos telegrammas de Porto Alegre, felicitando-o pela attitude que assumiu em face da questão da suppressão dos Collegios Militares.

Correio do Povo de 9/10/1912.

Collegios Militares

Rio, 10 — A Época publicou, hoje, um suelto, inspirado pelo deputado João Simplicio, dizendo que a bancada rio-grandense está scindida devido á questão dos collegios militares. Accrescenta que o referido deputado tinha o apoio do dr. Borges de Medeiros que telegraphára ordenando á bancada que votasse pela supressão dos referidos collegios. Amanhã, o Correio da Manhã publicará uma refutação do deputado Soares dos Santos, o qual defende a manutenção desses estabelecimentos de ensino. 

Correio do Povo, 13/10/1912. 

N.R.: A emenda ao orçamento da Guerra, oferecida pelo deputado João Simplicio, e que suprimia os colegios militares de Porto Alegre e Barbacena, foi retirada na sessão da Câmara Federal, de 16/10/1912.

O jornal Correio do Povo publicou em 15 de outubro de 1912 um artigo sobre o assunto. A grafia da época foi preservada.

Rio, 14 – A questão dos collegios militares continúa incandescente no seio da Camara. O senador Pinheiro Machado insiste pela suppressão dos collegios. Entretanto, elementos poderosos trabalham pela manutenção, que, segundo ainda hoje, garantiram os deputados Pedro Moacyr e José Bonifacio, é idéa vencedora. Quanto á bancada rio-grandense, está novamente dividida, sendo contra a manutenção dos collegios os deputados João Simplicio, Domingos Mascarenhas, Evaristo do Amaral, Victor de Britto, Octavio Rocha, Fonseca Hermes e Nabuco de Gouvêa e a favor os deputados Soares dos Santos, Homero Baptista, João Vespucio, Carlos Maximiliano e Pedro Moacyr. Não são conhecidos os votos dos deputados Gomercindo Ribas e Diogo Fortuna.

Banda do Colégio Militar de Porto Alegre

Nota: Em 1939, o Colégio Militar de Porto Alegre foi extinto, dando lugar a Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre (EPPA) e em 1º de janeiro de 1962 voltou a ser Colégio Militar.

IMAGENS: CP Memória