O último salto de uma lenda

Em 2 de fevereiro de 2016, o Capitão Casemiro Scepaniuk, aos 94 anos, realizou seu derradeiro salto. Um dos pioneiros do paraquedismo militar brasileiro, Scepaniuk era o paraquedista militar de nº 44 e um dos quatro que ainda estavam vivos.

O General Mourão, Comandante Militar do Sul, também paraquedista cumprimentando o Pqdt 44 no Encontro Anual de Paraquedistas Militares, em comemoração ao padroeiro São Miguel Arcanjo, realizado em São Leopoldo-RS, no 19º BI Mtz, em 08 de outubro de 2015.

Nascido em Erechim – RS, em 1921, fez o serviço militar obrigatório em 1939, servindo, durante dois anos como Soldado no 5º Regimento de Cavalaria, em Curitiba, dando baixa em 1941. De volta ao Sul, trabalhava como motorista de ônibus em Porto Alegre, quando foi reconvocado como voluntário, em face da possibilidade de o Brasil participar da II Guerra Mundial. Após frequentar um curso de formação de Sargentos, foi designado para a Escola de Educação Física do Exército, pois era um atleta nato, tendo integrado a equipe de atletismo do Exército, em corridas de fundo e meio-fundo. Mas o esperado chamado para participar da guerra não veio. Terminada a guerra, Scepaniuk recebeu um radiograma do Ministério da Guerra, nestes termos: O Coronel Nestor Penha Brasil, comandante da Escola de Paraquedistas, convida o 3º Sargento Cav Casemiro Scepaniuk a prestar exame nesta instituição, para, após ser aprovado, cursar no Fort Benning/Georgia/USA, o curso de Paraquedista Militar.

Aceitando o desafio, Scepaniuk foi fazer o curso e se tornou o Paraquedista nº 44 em um total de 47 Oficiais e Sargentos que foram para os Estados Unidos e se tornaram os pioneiros do paraquedismo militar brasileiro. De volta ao Brasil, sempre esteve ligado a área da Educação Física, na qual atuou como treinador de várias equipes de futebol, como o Clube Botafogo de Futebol e Regatas, e como instrutor de atletismo do Núcleo da Divisão de Paraquedistas do 1º Exército (hoje Comando Militar do Leste). Já como 2º Sargento, Scepaniuk pesquisou e descobriu uma falha em um gancho do paraquedas, que fazia este se abrir, mesmo depois de ser devidamente colocado no cabo de ancoragem das aeronaves, tendo já ocasionado uma morte e alguns feridos. Ciente disso, criou um pino de segurança que, ao ser inserido no referido gancho, não permitia sua abertura acidental. Posta em prática na Brigada Paraquedista, a genial invenção salvou a vida de muitos paraquedistas militares e pela importância de sua invenção foi chamado aos Estados Unidos, onde os fabricantes de paraquedas, maravilhados, cientificaram-no sobre a difusão de sua ideia pelo mundo, ficando o importante dispositivo de segurança em forma de pino conhecido mundialmente como “chipanique”, embora seu inventor nunca tenha querido requerer-lhe a patente. Após ir para a Reserva e fixar residência em Porto Alegre, o Capitão Scepaniuk passou a integrar o Grupo Grafonsos, que congrega paraquedistas de todo o Brasil.

Na capital gaúcha, Scepaniuk iniciou construção do próprio túmulo há 10 anos. Dizia que não queria dar trabalho a mulher, Ruth Scepaniuk, 90 anos, que também teve seu lugar reservado no mesmo jazigo, junto ao marido. Ele acreditava que iria antes dela. Não deixou filhos. Aos poucos, acrescentou detalhes que remetiam a sua trajetória na então Brigada Paraquedista. Sua marcial estatura, com farda e equipamento paraquedista, tem, à esquerda, a de Piloto, o primeiro cão paraquedista da América do Sul. À direita, a imagem de uma águia, em homenagem ao curso que realizou nos Estados Unidos.

RBS TV Entrevista Paraquedista Militar Casemiro Scepaniuk que construiu o próprio túmulo

Foi sepultado com honras militares prestadas pelo Comando Militar do Sul e com a presença de inúmeros companheiros, que entoaram a canção dos Paraquedistas: Eterno Herói. Ao velho Soldado Paraquedista, a mais caprichada continência! Brasil acima de tudo! Adaptado do texto do jornalista Lino Tavares, com pesquisas do Paraquedista Ricardo Freire, do Grupo Grafonsos.

FONTE:

Leonardo Araújo – Coronel Paraquedista. Historiador, membro da AHMTB